Adriano da Silva Felix
O game Tetris… Quem poderia esquecer a primeira vez que as formas geométricas começaram a cair do céu virtual? A luta para girar e ajustar, para encontrar o encaixe perfeito antes que a tela se enchesse. Cada movimento era uma mistura de antecipação, estratégia e adrenalina. Esse jogo, tão simples em seu design, mas tão complexo em sua execução, nos hipnotizava e nos mantinha cativos, buscando a perfeição em cada linha completada.
No entanto, imagine um Tetris onde, em vez de desaparecer, cada linha permanecesse, selada para sempre no registro do jogo. Esta é a essência da Blockchain. Uma sequência de blocos, cada um construído meticulosamente sobre o anterior, criando uma tapeçaria digital indestrutível. Assim como no Tetris, cada peça, ou bloco, tem um lugar e um propósito. Mas ao contrário de Tetris, uma vez colocado, ele não pode ser alterado ou removido.
As formas que caem do céu no Tetris são coloridas e variadas, cada uma com sua própria identidade. Na Blockchain, cada bloco contém informações únicas, seladas com um código criptográfico. E enquanto em Tetris buscamos o alinhamento perfeito para fazer as linhas desaparecerem, na Blockchain, buscamos esse alinhamento para garantir que a informação seja preservada por toda a eternidade.
A imutabilidade da Blockchain é sua força. Cada bloco, uma vez adicionado, torna-se parte integrante da cadeia, inalterável e permanente. Isso confere à Blockchain uma confiabilidade e segurança inigualáveis. Assim como no Tetris, onde confiamos no jogo para nos fornecer a próxima peça, podemos confiar na Blockchain para registrar e manter nossas informações seguras.
Contudo, no ecossistema da Blockchain, a magia não reside apenas em sua robustez, mas em suas aplicações práticas que transformam a realidade como a conhecemos. Imagine um mundo financeiro onde o problema angustiante do “gasto duplo” – a ideia de que uma moeda digital poderia ser gasta mais de uma vez – é habilmente resolvido, conferindo legitimidade e segurança a cada transação.
Visualize um artista, em algum canto do mundo, lançando sua obra como um NFT, garantindo que sua criação única seja reconhecida e valorizada, independentemente de quantas vezes seja replicada digitalmente.
Pense em pequenos produtores tendo a capacidade de rastrear e validar a autenticidade e a origem de seus produtos, desde a semente até a mesa do consumidor.
Imagine agricultores em mercados emergentes tendo acesso a microcréditos por meio de uma rede descentralizada, possibilitando que suas safras prosperem e comunidades inteiras sejam beneficiadas.
Como no Tetris, onde cada peça tem seu lugar preciso e contribui para o todo, a Blockchain se encaixa em nosso mundo, prometendo soluções revolucionárias e abrindo portas para um futuro mais transparente e equitativo.
Assim como as peças coloridas do Tetris se encaixam criando uma dança visual harmoniosa na tela, a Blockchain, com suas aplicações multifacetadas, promete um futuro mais integrado e justo para a sociedade.
Ademais, há uma dança entre Tetris e Blockchain que é ainda mais profunda. Ambos são jogos de regras. No Tetris, seguimos as regras de alinhamento e rotação. Na Blockchain, seguimos o protocolo.
Porém, as regras do mundo real são fluidas e complexas. Entendendo isso, é essencial reconhecer que, embora a Blockchain opere em um mundo digital, ela não está isenta das regras do mundo físico.
O Direito, com seus princípios e regulações, não só molda como a tecnologia é aplicada, mas também é moldado por ela. É uma relação simbiótica onde um influencia e é influenciado pelo outro.
Por isso, ao nos maravilharmos com a beleza e a precisão da Blockchain, não devemos esquecer que, assim como no Tetris, há sempre um próximo movimento a ser feito, uma próxima peça a ser colocada.
E enquanto exploramos esse novo mundo de possibilidades, devemos lembrar que as regras que o governam são tão importantes quanto as linhas que criamos.
Assim, ao final de nossa jornada, enquanto nos deslumbramos com o encanto da Blockchain e sua promessa de revolução, devemos lembrar que, em sua essência, ela é apenas mais um jogo de regras.
E é nosso dever, enquanto jogadores humanos neste vasto tabuleiro digital, garantir que essas regras sejam justas, equitativas e, acima de tudo, em prol da relevância de nossa humanidade e convivência harmônica, em um presente já tão permeado por dados que intentam suplantar o código do contrato social, tal como idealizado por Jean-Jacques Rousseau e em eterna programação incremental.
Que venha um novo direito permeado por esses “mágicos blocos”, quiçá descentralizado, mas ainda assim, ontologicamente identificado em regras de conduta a serem cumpridas e que enfatizem a dignidade humana, ainda mais se democraticamente produzidas por um viés inovador, qual seja, um novo meio de democracia direta mediante Organizações Autônomas Descentralizadas (DAOs).
“This is the way” – The Mandalorian creed, criado por Jon Favreau, Disney+.
O autor é advogado e consultor jurídico especialista em Blockchain. Mestre em Direito e Mestre em Educação, ambos pela UFMT. Professor de Direito Civil, Empresarial e Internacional da Universidade de Cuiabá e membro da ANADD e das Comunidades Legal Blocks, Zero Paralelo, Senra, Yeld Hackers e Bankless BR DAO.
Deixe seu comentário