*Drielle Belon Castro

Aprendizado de Máquina é a ciência (e a arte) da programação de computadores para que eles possam aprender com dados. Numa definição mais abrangente, é o campo de estudo que dá aos computadores a habilidade de aprender sem ser explicitamente programados (Arthur Samuel, 1959).

Na prática, ele é ótimo para problemas complexos para os quais não existe uma boa solução, quando utilizamos uma abordagem tradicional; em ambientes flutuantes (já que um sistema de Aprendizado de Máquina pode se adaptar a novos dados), e também para a compreensão de problemas complexos e grandes quantidades de dados.

Utilizando um exemplo bem interessante de Aprendizado de Máquina, trago o Aprendizado por Reforço, que é um sistema de aprendizado chamado de “agente” neste contexto, que observa o ambiente e seleciona e executa ações em troca de recompensas positivas ou negativas. Ele deve aprender por si só qual é a melhor estratégia, chamada de “política”, para obter o maior número de recompensas ao longo do tempo. Essa política vai definir qual ação o agente deve escolher quando estiver em determinada situação.

Para que o Aprendizado de Máquina funcione corretamente, é preciso uma grande quantidade de dados. A máquina precisará ser alimentada com milhares de exemplos. Para problemas complexos, como a realização de investimentos e desinvestimentos em criptoativos, os dados chegam a ser mais importantes do que algoritmos.

Os dados do mercado financeiro cripto são mesclados com dados de investimentos tradicionais, quando se fala em análise técnica. Desde técnicas antigas, como a japonesa de gráficos de candlesticks, e mais recentes, como a de Perfil de Mercado, que tornaram-se parte do panorama técnico, baseado em três premissas: “o mercado desconta tudo”, “os preços se movimentam em tendências” e a “história se repete”.

A abundância de dados sobre os criptoativos e a facilidade em sua obtenção (por exemplo, em corretoras centralizadas ou sites na internet, como o CoinMarketCap) permite o avanço da tecnologia neste mercado.

Nos casos conhecidos, sistemas automatizados regidos por essa tecnologia podem utilizar dados para traçar o perfil e gerir o patrimônio do investidor; recomendar o momento de entrada ou saída de determinadas posições; e até mesmo operacionalizar o envio e o cancelamento de ordens às corretoras cripto, por meio de uma gestão precisa de risco.

A estrategista de tecnologia especializada em governança de inteligência artificial, fintechs e transformação digital Clara Durodié afirmou no ANBIMA Summit 2023 que pesquisadores ainda não conseguiram atestar se esses sistemas de fato funcionam, mas indicam que, para isso, precisam de dois pré-requisitos: primeiro, ter muitos dados e de qualidade para evitar vieses; segundo, ter um humano para avaliar essas decisões.

Ana Teresa Contier, pesquisadora na área de neurociência cognitiva e afetiva, avaliou neste mesmo evento que não se pode deixar que o medo e a insegurança sobre as possibilidades da IA nos paralisem. “Tem muito mito, cenário distópico. A IA tem que servir como uma mão a mais nas atividades humanas”, afirmou. Ela defende um sistema que chamou de CDE para lidar com a inteligência artificial. “C” de conhecimento, como base fundamental para eliminar o medo. “Só a partir do conhecimento é possível entender IA e seus vieses”, disse Contier. “D” de diversidade de pessoas, dados e empresas que criam a IA. Por fim, “E” de ética, como forma de escolher quais sistemas de IA apoiar ou não.

A inovação é bem-vinda, principalmente considerando o perfil do investidor brasileiro, por meio do Raio X do Investidor Brasileiro realizado pela ANBIMA no ano de 2023, que retratou que apenas 6% da população brasileira conhece algum tipo de investimento em moedas digitais e somente 3% da população investe efetivamente em moedas digitais. O estudo realizado no ano de 2022 apontou que naquele ano 5% da população conhecia algum tipo de investimento envolvendo moedas digitais, enquanto apenas 2% da população investia efetivamente nisso. Já o mesmo estudo, realizado no ano de 2021 apontou números ainda menores de pessoas que investiam em moedas digitais naquele ano (1%), sendo a falta de conhecimento, em todos os anos, a principal causa destes números.

Por fim, é importante que o investidor tenha em mente que precisa tomar os cuidados citados pela Comissão de Valores Mobiliários antes contratar serviços de sistemas automatizados que lhe sejam oferecidos publicamente, principalmente o de verificar se o prestador de serviços é registrado na CVM, de atenção à expressões que indiquem ou sugerem “renda certa”, “rentabilidade fixa” ou “garantida” ou que não alerte de forma clara sobre os riscos da operação. No caso de dúvidas, o investidor deve sempre procurar um advogado especialista em investimentos ou negócios cripto.
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*Drielle Belon Castro é advogada empresarialista especialista em startups e negócios Web3, contratualista e negociadora, além de também ser gestora de inovação. Atua combinando domínio jurídico à inovação financeira, auxiliando no desenvolvimento de produtos e serviços disruptivos, adequados às regras brasileiras. É idealizadora e a primeira coordenadora da Comissão de BlockChain e Ativos Virtuais da 22ª Subseção da OAB/SP e membra da comunidade LegalBlocks. Seu instagram é @driellebelon.

FONTES

Mãos à Obra Aprendizado de Máquina com Scikit-Learn & TensorFlow: Conceitos, Ferramentas e Técnicas Para a Construção de Sistemas Inteligentes / Aurélien Géron; Traduzido por Rafael Contatori – Rio de Janeiro: Alta Books, 2019;
The Unreasonable Effectiveness of Data, Peter Norvig et al. (2009) – http://static.googleusercontent.com/media/research.google.com/fr//pubs/archive/35179.pdf -acessado em 23/10/2023, às 10:43;
Análise Técnica do Mercado Financeiro: Guia Definitivo e Métodos de Negociação / John J. Murphy -Rio de Janeiro: Alta Books, 2021;
https://coinmarketcap.com/pt-br/ – acessado em 23/10/2023, às 11:11;
https://www.gov.br/investidor/pt-br/investir/como-investir/profissionais-do-mercado/robos-deinvestimentos – acessado em 23/10/2023, às 11:23;
https://www.anbima.com.br/pt_br/especial/raio-x-do-investidor-2023.htm – acessado em 23/10/2023, às 11:36
https://www.anbima.com.br/pt_br/especial/raio-x-do-investidor-2022.htm – data do último acesso: 23/10/2021, às 11:42
https://www.anbima.com.br/pt_br/especial/raio-x-do-investidor-2021.htm – data do último acesso: 23/10/2021, às 11:45
https://www.gov.br/investidor/pt-br/investir/como-investir/profissionais-do mercado/robos-deinvestimentos – data do último acesso: 23/10/2023, às 11:53.