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O efeito manada da acumulação de bitcoin por empresas

O Bitcoin, criado como alternativa ao sistema financeiro tradicional, vem marcando presença em alguns balanços de companhias. Sua acumulação é justificada pela tese de que pode oferecer uma proteção contra a inflação e que se trata de um ativo com grande potencial de valorização e adequado para diversificação do risco de carteiras.

Em 2020, a Strategy (antiga “MicroStrategy”) ganhou as manchetes ao adquirir US$ 250 milhões em Bitcoin. A decisão ousada do CEO Michael Saylor desencadeou um efeito manada de compras de Bitcoin por empresas.

A Tesla seguiu o movimento em fevereiro de 2021, comprando US$ 1,5 bilhão em Bitcoin, o que fez tanto o preço do Bitcoin quanto o valor das ações da Tesla dispararem. A gigante de pagamentos Square (agora Block) começou a acumular Bitcoin em outubro de 2020 e suas reservas já haviam ultrapassado 8.000 BTC no início de 2025.

A empresa japonesa Metaplanet também expandiu ativamente suas reservas de Bitcoin. Desde que começou a comprar Bitcoin, suas ações valorizaram 4.800%, com um aumento de 500% em sua base de investidores. Fundos patrimoniais e fundações também estão aderindo à mania de acumulação de Bitcoin. Alguns entusiastas cripto ainda aguardam que Donald Trump inclua o ativo no futuro fundo soberano dos EUA.

Diferentemente das exchanges e de empresas de mineração que detêm Bitcoin como parte de suas operações principais ou como gestoras como BlackRock e Grayscale, que possuem grandes estoques de Bitcoin principalmente para lastrear seus ETFs., empresas como Strategy, Tesla, Block e Metaplanet estão considerando o Bitcoin como um ativo financeiro estratégico.

A Strategy viu o preço de suas ações e seu valor de mercado dispararem, tornando-se um proxy de Bitcoin para muitos investidores. O impacto foi perceptível tanto em seu balanço como na alteração de sua identidade. Sua inclusão no Nasdaq-100 no final de 2024 foi um resultado direto de sua estratégia cripto, e a sorte da empresa agora sobe e desce junto com o preço do Bitcoin. Em dezembro de 2024, a empresa possuía mais de 478.000 BTC (cerca de US$ 47 bilhões e 2,2% do fornecimento total de 21 milhões de BTC).

A trajetória da Tesla com o Bitcoin foi igualmente impactante. Apesar de ter vendido parte de suas reservas por preocupações ambientais, a Tesla retomou as compras de Bitcoin. Após reportar um lucro de US$ 128 milhões com a negociação de Bitcoin em 2022, em dezembro de 2024, a Tesla detinha 9.720 BTC (cerca de US$ 1 bilhão) e reportou um ganho de US$ 600 milhões no 4º trimestre de 2024.

Para os investidores, as empresas que acumulam Bitcoin podem ser uma alternativa às compras diretas de Bitcoin ou aos ETFs. Diferentemente dos ETFs, que simplesmente acompanham o preço do Bitcoin, essas empresas podem utilizar suas reservas estrategicamente.

A Strategy, por exemplo, oferece exposição à valorização do Bitcoin enquanto mantém receitas operacionais, o que pode servir como amortecedor contra a volatilidade. Além disso, as empresas acumuladoras de Bitcoin têm acesso a estratégias de negociação sofisticadas e soluções de custódia de nível institucional, inacessíveis ao varejo.

No entanto, a estratégia apresenta riscos relevantes. Críticos argumentam que a acumulação de Bitcoin expõe as empresas a uma volatilidade desnecessária e a riscos regulatórios, podendo afastá-las, ainda, de seu negócio principal e distorcer suas demonstrações financeiras.

A adoção corporativa do Bitcoin está acelerando. Só o futuro dirá se estamos diante de uma estratégia disruptiva ou de uma mera aposta. Mas uma coisa é certa: o Bitcoin já não é mais um ativo de “segunda linha”, pois, além do apetite de risco de investidores de varejo e do aumento da oferta de produtos cripto por instituições financeiras incumbentes, o ativo se tornou uma parte crucial da gestão financeira e da estratégia de diversas companhias.


 

*Isac Costa é advogado, professor do Insper e da LegalBlocks. Doutor (USP), mestre (FGV) e bacharel (USP) em Direito e Engenheiro de Computação (ITA). Ex-Analista da CVM, onde também atuou como assessor do Colegiado.

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